Vera Iaconelli

Vera Iaconelli

Psicanalista, mestre e doutora em Psicologia

Dedicou sua carreira à desconstrução da ideia de uma maternidade pautada pela supremacia heteronormativa cercada de mitos e dogmas que imputam à mulher mãe uma diversidade de papéis e responsabilidades que só fazem por reforçar a opressão e a desigualdade. Vera Iaconelli é psicanalista, mestre e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, membra do Instituto Sedes Sapientiae e da Escola do Fórum do Campo Lacaniano

Autora dos livros Mal-estar na maternidade (2020), Criar filhos no século XXI (2019) e Manifesto antimaternalista (2023) e uma das organizadoras da Coleção Psicanálise & Parentalidade (2020). Iaconelli é colunista da Folha de S. Paulo e diretora do Instituto Gerar de Psicanálise.

Em seu Manifesto, a psicanalista questiona: “Em uma sociedade pós-escravidão e recém-industrializada, como apoiar as mulheres para que conseguissem desempenhar sua ‘obrigação’ como mães – cuidando, amamentando, educando –, quando elas mesmas têm sua existência ameaçada pela situação de vulnerabilidade social própria do contexto?”.

Para Vera Iaconelli, o abandono paterno levou as mulheres “à dupla jornada, desejassem ou não. Devemos lembrar também que sempre existiram homens que se eximir de sua responsabilidade com a prole por entenderem que esse era um assunto que cabia às mães e que a liberdade masculina não deveria ser tolhida pela paternidade”.

A especialista vai além e alcança as famílias não binárias, as mães solteiras, as proles ditas “ilegítimas” e o aprofundamento do preconceito nas camadas sociais mais pobres e vítimas de outras formas de preconceito. No início do século, por exemplo, “as mulheres negras, por sua vez, viviam uma maternidade totalmente desprestigiada, por serem associadas a hipersexualização e promiscuidade”, afirma.

Iaconelli acredita que os pilares sobre os quais se ergueram essa forma de enxergar a mulher e a maternidade tem suas raízes em Rousseau. “As mulheres, identificadas com o ideal da mãe instintiva e natural, lutavam como podiam para dar conta da prole e de si mesmas, uma vez que quase não havia contestação dessa meta”, explica.

Em artigo na Folha de S. Paulo, a autora vai mais longe na destruição da idealização que envolve a maternidade e suas consequências sociais. “A ideia de que ‘quem pariu Mateus que o embale’ nos impõe a questão de saber se teremos ‘Mateus’ suficientes para empurrarem nossas cadeiras de rodas ao apagar das luzes. A gradativa diminuição da população economicamente ativa nos países desenvolvidos faz da aposentadoria e de uma economia minimamente estável miragens”, observa.

Entre os caminhos para reger essas relações tão delicadas quanto complexas, Iaconelli aponta que, “uma vez irremediavelmente apaixonados pelos filhos, teremos que sustentar algo diferente, próprio das relações entre amigos, aquelas que se mantêm mesmo à distância. A tarefa aqui é criar um amor que assuma a iminente separação.

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