Postado em set. de 2023
Sociedade | Internet e Redes Sociais
Estamos perdendo a humanidade
Douglas Rushkoff foi o palestrante do mês de setembro do Fronteiras, e eu estive lá para conferir. Um homem cheio de ideias, de fala rápida, muito a dizer em pouco tempo.
Por Luiz Fernando Bettella
Percebo que o Fronteiras busca a diversidade: escritores, ativistas, cientistas, sociólogos, todos são convidados a emprestar suas ideias em nome da pluralidade, mas o assunto central de Douglas se mostrou um forte ponto de convergência entre os palestrantes desta temporada. Estamos perdendo a humanidade. Uma frase forte. Nestas palavras de grande efeito ele sintetizou um sentimento manifestado pelos antecessores. Conecte-se com as pessoas próximas, com a vizinhança, faça o bem aos que te cercam, misture as tribos, as classes sociais... Todos parecem carregar essa bandeira, o que me deixa feliz por estar de certa forma em sintonia com eles. Quando um americano precisa fazer um furo na parede, disse Douglas, pega o carro, vai a uma loja de departamentos e compra uma furadeira. Faz o furo, joga a furadeira num canto e nunca mais a utiliza. Por que não pedir emprestado ao vizinho? Por que a ideia de dever um favor assombra os americanos? Muitos brasileiros têm o mesmo comportamento, talvez ele não saiba. Cultive a dívida social, é uma benção, não uma praga.
Rushkoff falou sobre a experiência de ser contratado por bilionários americanos preocupados com o fim do mundo. Em comum, o desejo de isolamento, seja em outro planeta, em bunker no Alasca ou na Nova Zelândia. Parece que a desconexão com a realidade é um pré-requisito para ser bilionário. As pessoas sempre desejam ganhar dinheiro para sair do lugar ruim em que estão, nunca para melhorá-lo.
As telas também desumanizam, comentou. Videoconferência não é convivência, streaming não é música, são reproduções de experiências reais muito mais ricas. Neste mundo em que as plataformas digitais dominam as atenções, a figura do professor é ainda mais importante. A escola deve ser uma experiência sensorial, um lugar onde se ensina o que é ser humano, um lugar para engajar a lança na vida real. Humanidade é convivência, é sensibilidade, é abstração e memória. Lembrei de um pensamento de Banksy. “Ser humano é o único ser que morre duas vezes: a primeira quando o coração deixa de bater, e a segunda quando é lembrado pela última vez”.
A conferência passou voando. Saí com a sensação de que Rushkoff adicionou uma gota de humanidade nos presentes. Assim que terminar de ler “Diorama” da Carol Bensimon, começarei a ler seu último livro, “Equipe Humana”, que parece ser um manifesto em favor da humanidade, do coletivo, do espírito de colaboração que nos trouxe até aqui.
Douglas Rushkoff
Autor e documentarista norte-americano