A humanidade segue junta.  Mesmo a distância

Postado em mar. de 2020

Filosofia | Sociedade

A humanidade segue junta. Mesmo a distância

O que é humanidade para você? Como podemos ajudar, neste período, os que estão ao nosso redor? Estamos prontos para viver uma nova história?


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Diante de grandes crises, a humanidade sempre se reinventa. As restrições reforçam a nossa característica de buscar a adaptação. Ou seja, mudar e sobreviver às novas – e muitas vezes penosas – exigências.

Ao enfrentar a pandemia global do COVID-19, fica cada vez mais claro que o distanciamento físico fundamental neste momento praticamente nos impõe uma postura de reflexão. Estamos isolados fisicamente em nossas casas, mas juntos em um mesmo propósito: preservar a vida. Preservar os valores que nos tornam sociedade.

Ao vivermos a nova realidade em defesa da vida de todos, percebemos também a recuperação do conceito de sermos humanos. Se outrora houve aqueles que buscavam retirar a universalidade radical desse ideal iluminista, hoje ela se impõe em toda sua força: a humanidade é uma só. Não existem os cidadãos e os não cidadãos. Cada um de nós compõe um todo. E as consequências de nossas ações individuais refletem no geral, como temos visto.

Desde 2019, quando a equipe do Fronteiras definiu o tema e os conferencistas da nova temporada, sabíamos que o debate sobre o “humano” seria essencial em 2020. Só ainda não imaginávamos o quanto.

Em fevereiro, o Coronavírus já era uma realidade na China e em alguns países da Europa. O texto que foi produzido para a temporada parece uma grande antecipação. Ele defende, mais do que nunca, a retomada dos ideais da ciência, da razão e do humanismo, e propõe uma reinvenção do significado de humanidade. A reinvenção do humano.

Fique com o texto criado para a temporada 2020 do Fronteiras do Pensamento e divida suas ideias conosco: o que é humanidade para você? Como podemos ajudar, neste período, os que estão ao nosso redor? Estamos prontos para viver uma nova história?

 

REINVENÇÃO DO HUMANO 

A dicotomia “bem e mal” é uma das formas que usamos para manifestar nossas visões e opiniões. Uma classificação simples, que não leva em conta outras formas como a estética, a religião e os costumes, mas expressa nossa época de polarização, ataques, individualismo e falta de consenso.

Ideias que também refletem o mundo com suas conquistas e consequências. A tecnologia abre caminhos, mas também aprisiona. O avanço trouxe o desenvolvimento e, ao mesmo tempo, criou incertezas. O homem é bom, mas nem sempre está disposto, consegue ou tem recursos para ajudar quem pede auxílio. O planeta é global e conectado, só que a velocidade da informação, a descrença nas instituições e os problemas como os conflitos que afetam civis, as crises ambiental e financeira e a injustiça social, têm nos tornado ansiosos e perversos. 

 Muitos intelectuais defendem que as manchetes sensacionalistas, os profetas alarmistas das redes sociais, as fake news e os cenários de distopias e apocalipses influenciam as nossas decisões. A resposta de um futuro melhor para as pessoas pode estar na defesa de áreas que já foram valorizadas no Iluminismo: a razão, a ciência e o humanismo. 

Mesmo após o período histórico de enaltecimento do conhecimento e do humano, o mundo viveu e vive horrores como as guerras mundiais, as tensões sociais, o holocausto, a crise humanitária dos refugiados, entre outros. Construir um Novo Iluminismo ajudaria na resolução dos conflitos e impulsionaria o progresso, a renovação e a preservação.

Uma nova corrente que poderia se adequar aos tempos atuais e privilegiar a sociedade como um todo, não apenas alguns setores. Valorizar as pessoas por trás das inovações. Iluminar as “trevas” e colocar o humano no centro de tudo, ressaltando o pensamento, a ética, a dignidade, a igualdade, a justiça e as capacidades humanas. Manter o essencial e “iluminar” o que é indispensável para que possamos descobrir, desvendar e reinventar o humano.  

Michel de Montaigne, filósofo que iniciou o gênero ensaio e escreveu a partir de sua própria vida, afirmava que a verdade é relativa, pois não existe uma universalidade aplicável a todas as pessoas. Somos complexos e, também, somos únicos. É, talvez, na autodescoberta, na ampliação das ideias e no olhar para dentro antes de julgar que pode ser possível enxergar uns aos outros com alteridade, empatia e tolerância. E resgatar o que significa ser, verdadeiramente, humanidade. 

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