As incertezas do processo científico e importância de aproximar sociedade e ciência

Postado em ago. de 2022

Ciência

As incertezas do processo científico e importância de aproximar sociedade e ciência

O neurocientista americano Stuart Firestein e a microbiologista brasileira Natalia Pasternak falaram sobre o tema na primeira conferência da Temporada 2022.


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O neurocientista americano Stuart Firestein e a microbiologista brasileira Natalia Pasternak abriram a Temporada 2022 com conferências em São Paulo, no Teatro Claro, e em Porto Alegre, na Casa da Ospa. A partir do tema Incertezas, eles discutiram a importância da ignorância para a ciência e da formação do pensamento crítico para uma maior proximidade com a ciência e uma sociedade mais consciente.

Stuart Firestein lembrou do quanto a ciência é um procedimento bagunçado, do qual é essencial a ignorância de alta qualidade. Aquela que é totalmente consciente e que nos leva a alcançar algo novo. “Começamos com ignorância e nos fizemos experts: lemos livros, buscamos conhecimentos, ganhamos mais ignorância melhor. A partir desse processo, fazemos perguntas melhores em relação àquelas com que iniciamos.” Ainda em relação a essa busca, dois comportamentos são determinantes: a capacidade de ter paciência para ter dúvidas e incertezas e de gostar de abraçar a ignorância e o mistério. Outro é o fracasso, aquele que tem um fim em si mesmo e ajuda a melhora o processo de busca que pauta a ciência.

Renomado pesquisador da Universidade de Columbia, o neurocientista norte-americano é pós-doutor em neurobiologia e atuou nas universidades de Yale, Paris VI e Cambridge. Iniciou sua carreira acadêmica de forma tardia, aos 40 anos, após trabalhar no teatro por quase duas décadas. Publica artigos nas revistas Wired e Scientific American e fundou a NeuWrite, rede internacional de comunicação da ciência integrada por cientistas, escritores, cineastas e artistas. Há mais de 15 anos ministra um curso de sucesso em Columbia, sobre as incertezas do processo científico. A experiência originou os livros Ignorância: como ela impulsiona a ciência e Failure: Why Science Is So Successful, ainda não publicado no Brasil.

Natalia Pasternark trouxe a seguinte provocação: será que não podemos deixar as incertezas para os cientistas? Ela nos explica sobre a importância de não deixarmos, pois, como nos lembra, no nosso dia a dia não deixamos. Calculamos riscos e probabilidades. E em relação a conhecimentos e decisões que envolvem questões científicas, como tomar vacina, deveríamos fazer o mesmo. Só que somos muito pautados pela emoção. E isso piora diante de um cenário que qualificou como “um mar de incertezas permeado por vendedores de certezas”. E como melhor navegar por ele? Desenvolvendo o pensamento crítico de nossas crianças e adolescentes, na escola, e aproximando a ciência do dia a dia da sociedade. Segundo ela, essa aproximação vai nos ajudar a navegar nesse cenário de incertezas e nos fortalecer como sociedade.

Eleita uma das mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo em 2021, de acordo com a BBC 100 Women, a microbiologista é pesquisadora da Universidade de Columbia e da USP. Preside o Instituto Questão de Ciência e é pesquisadora sênior da Associação Nacional de Escritores Científicos, em Nova York. Bióloga e pós-doutora pela USP, é professora visitante da FGV e foi reconhecida como personalidade do ano de 2020 pela revista Isto É e pelo Grupo de Diários América, por seu combate à desinformação no Brasil. Como comunicadora científica, escreve para o jornal O Globo e para a revista britânica The Skeptic. Contabiliza mais de 1.400 inserções na imprensa apenas entre os anos 2020 e 2021 e publicou os livros Contra a realidade e Ciência no cotidiano, vencedor do prêmio Jabuti.

As palestras tiveram a mediação, em São Paulo, do curador do Fronteiras do Pensamento, Fernando Schüler, e, em Porto Alegre, do jornalista Tulio Milman. Antes da conferência, foi possível, acompanhar obras de arte, em ambos os lugares, selecionadas pela Bienal de Arte. Além disso, em Porto Alegre, integrantes da Orquestra Sinfônica da OSPA fizeram uma apresentação de peças clássicas. Ao final da noite, os conferencistas participaram de uma sessão de autógrafo.

 

 

 

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