Postado em jun. de 2022
Ciência | Medicina | Neurociência | Psicologia e Saúde Mental
"Estamos vivendo uma insônia planetária"
Sidarta Ribeiro fala sobre a hipótese de estarmos vivendo uma insônia planetária e seus impactos na nossa vida.
Estamos passando por uma crise planetária onde todos estamos nos sentindo meio mal, embora nunca tenhamos tido tanta tecnologia, tanta ciência, tanta capacidade de transformação. Como é possível que as pessoas estejam tão irritadas, chateadas, cansadas, se temos tantos meios de transformação da vida?
Conferencista da Temporada 2022 do Fronteiras do Pensamento – Tecnologias para a vida, Sidarta Ribeiro falou sobre a hipótese de estarmos vivendo uma insônia planetária e sobre os seus impactos na nossa vida, durante uma entrevista ao programa Timeline da Rádio Gaúcha, no dia 06 de junho.
Escute a entrevista na íntegra.
Neurocientista e biólogo, Sidarta Ribeiro é doutor pela Universidade Rockefeller e pós-doutor pela Universidade Duke, Estados Unidos. É professor e pesquisador do Instituto do Cérebro da UFRN. Autor do recém-lançado Sonho manifesto, de O oráculo da noite, Maconha, cérebro e saúde e Song, Sleep and the Slow Evolution of Thoughts. É colunista da Carta Capital e escreveu para a revista Mente e Cérebro.
Sidarta Ribeiro é um dos 12 conferencistas que passarão pelo palco do Fronteiras do Pensamento durante 2022. A Temporada Tecnologias para a vida será formada por 6 conferências presenciais, em São Paulo e em Porto Alegre, e outras 6 on-line. Os pacotes de ingressos já estão sendo vendidos, e podem ser adquiridos de diversas formas. Confira em fronteiras.com/temporada.
Durante a entrevista, Sidarta Ribeiro defendeu a hipótese de que estejamos vivendo uma insônia planetária. “As pessoas estão dormindo cada vez menos, mais tarde do que dormiam nossos avós e bisavós, acordando geralmente no mesmo horário. Então, elas perdem a segunda metade da noite, e com isso perdem o sono REM, aquele que a gente sonha mais. E não pensam mais nos próprios sonhos e não compartilham com ninguém”.
As pessoas estão cada vez mais sozinhas, entende o neurocientista. Ele relacionou isso ao que chama de epidemia de suicídio no mundo, onde destaca que há mais suicídio do que homicídios. E questiona: de onde vem esta solidão?
“As famílias estão ficando cada vez menores, as relações estão cada vez mais distantes, inclusive, remotamente, falando a distância, de fato. E tudo isso tem a ver com o abandono de várias coisas que são ancestrais e fundamentais. O sono é a base disso. Em cima desta base vem a alimentação, o exercício físico, as relações de qualidade. Mas a base é o sono. Se você dorme mal, a sua saúde física e mental vai se degenerando, e isso é garantido”.
Obras
Em seu lançamento, Sonho e manifesto – Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico (Companhia das Letras, 2022), Sidarta compartilha conhecimentos de cientistas, pajés, xamãs, mestras e mestres de saber popular, artistas e inventores que nos lembram da importância de sonhar coletivamente com o futuro do planeta.
Há cerca de 100 mil anos, um grupo da espécie Homo sapiens fundou a linhagem que veio a conquistar todo o planeta. Uma estirpe violenta em que os mais fortes frequentemente humilham e oprimem os mais fracos, mas também capaz de muito altruísmo e extremados cuidados parentais.
A constatação desse paradoxo é o ponto de partida de Sidarta Ribeiro em seu novo livro. Em Sonho manifesto, o renomado neurocientista denuncia a profundidade da crise ambiental e social ao mesmo tempo em que celebra a oportunidade única que temos hoje de expandir a consciência planetária. O caminho para esse sonho coletivo, diz o autor, é o resgate do melhor de nossa ancestralidade.
Pesquisador inquieto, Ribeiro reúne dezenas de histórias de griôs da África ocidental, mestres de Capoeira, babalorixás, xamãs e pajés dos povos originários, além de dados sobre pesquisas científicas recentes e relatos das mais diversas tradições como budismo e taoismo. Afinal, "enquanto houver vida, ainda há tempo para mudar", afirrma.
No best-seller O oráculo da noite (Companhia das Letras, 2019), o neurocientista compõe uma narrativa instigante sobre a ciência e a história do sonho, a partir de informações históricas, antropológicas, psicanalíticas e literárias, além das referências mais atualizadas da biologia molecular, da neurofisiologia e da medicina.
Neste livro, Sidarta Ribeiro parte de questões como “O que é, afinal, o sonho? Para que ele serve? Como extrair sentido de seus tantos símbolos, repletos de detalhes e significados?”. Ele responde a essas e muitas outras perguntas sobre um dos grandes enigmas da humanidade ao recuperar narrativas literárias e históricas do mundo todo.
O neurocientista mostra como os sonhos eram importantes às civilizações antigas, como no Egito e na Grécia, situando-os no cerne da ciência e da política, ou como as culturas ameríndias preservam alguns dos exemplos mais bem documentados de profecias oníricas capazes de guiar povos inteiros. Ao mobilizar os principais debates da psicanálise, da medicina, da biologia molecular e da neurofisiologia, O oráculo da noite apresenta uma história da mente humana pelo fio condutor do sonho.
Sidarta Ribeiro
Neurocientista brasileiro