Postado em ago. de 2021
História | Ciência
Jared Diamond abre a temporada 2021 do Fronteiras do Pensamento
Foi transmitida a conferência de abertura da Temporada 2021 do Fronteiras do Pensamento.
A temporada 2021 do Fronteiras do Pensamento teve início, com a conferência do biólogo Jared Diamond. Com a mediação do jornalista Pablo Ribeiro, o autor do livro “Armas, germes e aço” e vencedor do Prêmio Pulitzer falou sobre a “Reconexão no mundo da Covid-19”: De onde vem as novas doenças? Quais suas origens? Quais serão os efeitos da Covid em comparação aos efeitos históricos das pestes do passado? Estas foram algumas das questões apontadas pelo biólogo, que considera a doença uma tragédia, mas mantém o otimismo ao acreditar que pode representar um grande aprendizado para o mundo globalizado.
“Os grandes problemas que o mundo enfrenta hoje não são questões que não possamos controlar”, Jared Diamond. Confira abaixo o resumo da conferência do biólogo:
“É um grande prazer estar aqui hoje, mesmo que eu não possa retornar pessoalmente ao Brasil, vou explorar com vocês a grande transformação atual da história mundial. A era da reconexão em que estamos entrando agora, a bifurcação na estrada que temos à nossa frente e a escolha dos caminhos que devemos tomar a partir de agora. A escolha que tem sido moldada pela Covid”.
Após a apresentação, Diamond abriu a conferência voltando ao passando para contar a história das doenças emergentes.
“Naturalmente, a Covid não é a primeira doença emergente. Vamos pensar nas grandes epidemias do passado. Uma das mais famosas foi a Peste Negra, praga da Idade Média, que matou durante os anos 1300 cerca de 1/3 da população europeia. Outra epidemia famosa foi a Praga de Justiniano, no século VI, no Império Romano oriental. Houve a Gripe Espanhola, no fim da primeira Guerra Mundial. A epidemia da Influenza que se espalhou pelo mundo (...) Esses são alguns exemplos do que as doenças fizeram na história humana.
A Covid não é a primeira doença emergente, mas há duas novidades com relação a ela. Uma é: antes, na história, as epidemias eram regionais, não explodiam no mundo inteiro, porque nem havia transporte para isso. A Covid é uma doença global que se espalhou pelo mundo como resultado da globalização.
Hoje, em contrapartida, há novas doenças às quais ninguém foi exposto. E são todos suscetíveis a essas doenças. Não há ninguém protegido, como é o caso da AIDS. Não há população humana protegida da AIDS, como não há protegida da Covid. E haverá novas doenças porque os humanos têm contato com animais selvagens”.
Quais serão os efeitos da Covid em comparação aos efeitos históricos das pestes do passado?
“Eis uma boa notícia: a Covid não vai matar uma alta porcentagem da população mundial. Apenas 2% dos infectados morrem de Covid. Enquanto a AIDS e a Doença da Vaca Louca mata 100% das pessoas infectadas, ninguém se recupera. Neste sentido, a Covid é uma doença relativamente leve. A Covid não vai despovoar o mundo ou criar territórios vagos, como fez a Peste Negra, na Europa, não vai afetar resultados de batalhas e guerras”.
Como a Covid poderia mudar nosso mundo para melhor, nesta era da reconexão que começa agora?
“É uma ideia obscena hoje encontrar algo bom na Covid, mas uma característica única desta doença é que, pela primeira vez na história mundial, as pessoas de todos os lugares tiveram que reconhecer que temos um problema global. Isso nunca aconteceu com a humanidade e isso é um diferencial da Covid. Enquanto o vírus existir e circular, nenhum país que está controlado está a salvo, porque seria infectado novamente por viajantes de outros países, como acontece na Nova Zelândia e Austrália, Vietnã e China.
Não reconhecemos que o esgotamento de recursos, a desigualdade e a pobreza no mundo são um problema global. Por isso que a Covid pode trazer boas consequências, esta doença terrível pode fazer com que percebamos que este é o primeiro problema mundial reconhecido que demanda uma solução global.
Se isso acontecer, então, a tragédia da Covid pode ter paradoxalmente causado uma mudança para melhor no mundo. Esta é a minha esperança para o caminho que podemos escolher nesta era de reconexão”, argumentou Diamond na primeira conferência desta Temporada.
Jared Diamond
Biólogo evolucionário