Postado em mai. de 2015
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Manuel Castells inicia Fronteiras Braskem do Pensamento 2015: história é conflito entre movimentos sociais e ordem estabelecida
Manuel Castells abriu a temporada 2015 do Fronteiras Braskem do Pensamento, em Salvador, com a conferência "Movimentos sociais em rede e processo político na era da internet"
A série especial do Fronteiras do Pensamento em Salvador apresenta intelectuais que, em seus estudos e experiências, refletem sobre a vida em sociedade e nosso futuro. Neste ano, o debate proposto aos convidados se inspira em um tema comum: como viver juntos. Para tanto, o projeto recebe, em 2015, três convidados: Manuel Castells, Luc Ferry e Contardo Calligaris.
Abrindo a temporada deste ano, o sociólogo espanhol Manuel Castells proferiu a conferência Movimentos sociais em rede e processo político na era da internet, no Teatro Castro Alves.
O convidado, doutor em sociologia pela Universidade de Paris, é reconhecido como um dos principais pesquisadores sobre os movimentos civis criados nas redes digitais. Porém, Castells já iniciou sua fala esclarecendo como se posiciona: “Não sou um pensador, sou um investigador e por isso estou em busca das evoluções do mundo e da sociedade."
Segundo o conferencista, não apenas ele está em busca das evoluções do mundo, mas o próprio mundo está nesta busca – e esta é a principal necessidade por trás das demandas da sociedade contemporânea: “os movimentos sociais são aqueles que não se limitam a contestarem o poder do estado. O que eles pedem são rupturas culturais e de normas dominantes e uma evolução das mentes. A necessidade de evoluir."
Castells defendeu que os movimentos sociais são os atores da mudança ao longo da história e apontou uma relevante diferença entre movimentos sociais e movimentos políticos, sendo que o primeiro é mais complexo do que a reivindicação por melhorias de gestão, já que “os movimentos sociais são, sobretudo, movimentos emocionais. Os movimentos programados, organizados, são movimentos políticos. Os movimentos sociais são um basta e esse 'basta' supera o medo e se transforma em mudanças pessoais".
Os movimentos sociais surgem, de acordo com o conferencista, de emoções humanas básicas como a “indignação e a humilhação social diária" e compartilham de um espírito afim: "a palavra comum aos movimentos sociais no mundo é dignidade. É o que buscam as pessoas contra a injustiça estabelecida."
As transformações geradas por estes “atores" têm impacto direto nas instituições e na organização da sociedade. Enquanto instituições fazem a manutenção da ordem estabelecida, os movimentos sociais são a ruptura da ordem, portanto, esclarece Castells, são os próprios movimentos que definem quando as mudanças iniciam e acabam, nesta “contínua contradição" que define a história. De acordo com Castells, a história é este contínuo conflito entre “a tendência das instituições de reproduzirem a ordem social, cultural, econômica e, portanto, o poder estabelecido nestas instituições, e os movimentos sociais que têm valores ou interesses alternativos para corrigir, modificar ou invadir os espaços de poder institucionalizado."
Neste movimento de ordem e ruptura, constitui-se a história e, assim, o surgimento de um movimento social pressupõe sua própria morte, porque ora são derrotados ora se transformam em pautas e comportamentos institucionalizados. Porém, Castells ressalta a diferença entre ambos os fins: “há formas distintas de morrer. A morte infrutífera, que apenas deixa amargura e destruição, e aquela que faz germinar novas ideias, novas sociedades, novas alegrias e novas formas de viver. E, no mundo, em que o Fronteiras do Pensamento e a Braskem colocaram como tema central, como suas preocupações e atividades culturais deste ano, como viver juntos, a primeira resposta é reforçando a necessidade de abrir as instituições aos atores que nelas não se reconhecem."
Não esqueça: amanhã, divulgaremos a resposta da Pergunta Braskem, seleção de uma das questões enviadas pelos seguidores do Fronteiras nas mídias sociais de todas as partes do Brasil.
Manuel Castells
Sociólogo