Miguel Nicolelis defende função social da ciência no Fronteiras do Pensamento Florianópolis

"Eu gosto de dizer que a gente não construiu escolas, nós construímos um aeroporto de cidadãos.
Porque o conhecimento liberta." - Miguel Nicolelis no Fronteiras do Pensamento Florianópolis 2014

O neurocientista Miguel Nicolelis foi o convidado da segunda noite do Fronteiras do Pensamento Florianópolis (26/08). Nicolelis começou falando do início de seus estudos ainda na década de 1980 e nos primeiros passos no sentido de descobrir como o cérebro pode comandar objetos robóticos como se eles fossem extensão do próprio corpo.

Em 1999, o cientista conseguiu que um macaco movimentasse o braço de um robô apenas com o pensamento, através de um chip implantado no cérebro. Anos depois, o pesquisador fez também com que macacos pudessem controlar o andar de robôs. Esses foram os primeiros passos para a criação do projeto Walk Again (Andar de novo), em que Nicolelis liderou uma equipe de dezenas de cientistas na criação de um exoesqueleto.

O convidado falou sobre o Instituto Internacional de Neurociências de Natal, que fundou em Macaíba (Rio Grande do Norte), em 2006, e que se ampliou, abrindo sede também em Feira de Santana (Bahia). No instituto, trabalham cientistas internacionais e estudam crianças da comunidade. Nicolelis defendeu que o dom maior da ciência é promover a inclusão, seja ela através da reabilitação médica ou desenvolvendo um papel social: "Eu gosto de dizer que a gente não construiu escolas, nós construímos um aeroporto de cidadãos. Porque o conhecimento liberta."

Nicolelis ganhou imenso destaque em 2014, por coordenar o projeto que foi apresentado durante a aberturada da copa do mundo FIFA de 2014, quando um portador de necessidades especiais (tetraplégico) chamado Juliano deu um chute simbólico de início da competição na Arena São Paulo (Itaquerão), com o auxílio de um exoesqueleto.

Sobre a pouca exposição dada pela entidade, Nicolelis disse não se importar, e mostrou ao público um vídeo exclusivo da ação completa gravado por um anônimo e que chegou às mãos do pesquisador. Nele, luzes indicaram a transmissão do pensamento que ativou o exoesqueleto e fez um tetraplégico comandar seus próprios movimentos através de sua própria vontade pela primeira vez em público na história da humanidade.

"Juliano disse que sentiu a bola. E nesse momento o exoesqueleto não era mais um pedaço de tecnologia, mas sim parte do corpo de Juliano. E com esse chute cumprimos nossa palavra", conta Nicolelis, no fim da palestra, o que o levou a ser ovacionado e aplaudido em pé por alguns minutos.

O Fronteiras do Pensamento Florianópolis 2014 é uma realização da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). O evento tem patrocínio de Softplan e Intelbras, apoio da Tractebel Energia e planejamento cultural da Telos.