O Novo Iluminismo: Steven Pinker explica como a civilização resolverá os desafios contemporâneos

Postado em set. de 2018

História | Educação | Ciência | Psicologia e Saúde Mental | Líderes Globais

O Novo Iluminismo: Steven Pinker explica como a civilização resolverá os desafios contemporâneos

Da sobrevivência pré-histórica às leis que regem o mundo contemporâneo: como evoluímos para criar ideias e estruturas tão complexas? Steven Pinker se propõe a explicar tudo isso.


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Da sobrevivência pré-histórica às leis que regem o mundo contemporâneo: como evoluímos para criar ideias e estruturas tão complexas?

Quais caminhos nosso cérebro tomou até chegarmos a sociedades capazes de prevenir e conter possíveis desordens em nossos sistemas?

Steven Pinker se propõe a explicar tudo isso.

A mais recente obra do psicólogo canadense, que acaba de chegar ao Brasil, é mais do que uma aula sobre a história do pensamento.

O livro O Novo Iluminismo reúne dados da psicologia, história, comunicação, neurociência, economia e muitos outros campos (muitos mesmo) para esclarecer como criamos nossa civilização – e o que precisa ser retomado se não quisermos perder o que construímos.

Pinker, conhecido (e até criticado) por seu suposto otimismo, mostra lados nem tão positivos assim.

O psicólogo aponta crenças, tendências e padrões humanos primitivos que prosseguem até os dias atuais.

Para ele, o mundo não é cor-de-rosa, o ser humano não é pura bondade e a natureza é sim caótica.

O otimismo de Pinker surge a partir da capacidade que o ser humano tem de modificar estes quadros desordenados.

O otimismo surge quando ele aborda as ferramentas que criamos para barrarmos a violência e o sofrimento – para aprendermos a dialogar mesmo em um mundo onde as antigas aldeias, tão pequenas, se tornaram globais.

A leitura da obra é densa, mas fluida. São diversos os dados apresentados ao longo dos capítulos e a costura destas informações pode assustar o leitor.

Mas, não se assuste.

É justamente a habilidade de Pinker de interligar tantas áreas que o torna um dos pensadores de maior influência do nosso tempo.

Escolhemos, para compartilhar com vocês, um trecho-chave da obra.

Neste excerto inédito, Steven Pinker resume como nossa civilização foi construída (ou como a construímos).

O psicólogo vai da alimentação paleolítica à Revolução Industrial, sem deixar de passar pela influência do Iluminismo, é claro, até chegar aos desafios da convivência na nossa Era da Informação.

São algumas páginas capazes de nos “iluminar” sobre quem fomos, quem somos e onde vivemos. Confira abaixo. Mas, antes, curta nossa página e assista à conversa entre Pinker e Bill Gates sobre o livro (legendas em inglês).

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Steven Pinker e O Novo Iluminismo 

Os princípios de informação, computação e controle reduzem o abismo entre o mundo físico de causa e efeito e o mundo mental do conhecimento, inteligência e propósito.

Dizer que ideias podem mudar o mundo não é só uma aspiração retórica— é um fato decorrente da constituição física dos cérebros.

Os pensadores iluministas suspeitavam que o pensamento podia consistir em padrões na matéria — compararam as ideias a impressões em cera, vibrações em uma corda ou ondas provocadas por um barco.

Alguns, como Hobbes, propuseram que “raciocinar é simplesmente calcular”.

Contudo, antes de os conceitos de informação e computação terem sido elucidados, era razoável um indivíduo acreditar em um dualismo mente-corpo e atribuir a vida mental a uma alma imaterial (do mesmo modo que, antes de o conceito de evolução ser elucidado, era razoável ser um criacionista e atribuir as complexas obras da natureza a um criador cósmico).

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Desconfio que essa seja outra razão pela qual muitos pensadores iluministas eram deístas.

Evidentemente, é natural duvidar que o seu celular “sabe” um número favorito, que o GPS “calcula” o melhor trajeto para voltar para casa e que o seu aspirador de pó automático “quer” limpar o assoalho.

Porém, à medida que os sistemas de processamento de informação tornam-se mais complexos — à medida que suas representações do mundo tornam-se mais ricas, seus objetivos são organizados em hierarquias de subobjetivos dentro de subobjetivos, e suas ações para atingir os objetivos tornam-se mais diversificadas e menos previsíveis —, começa a parecer chauvinismo hominídeo insistir que eles não se sofisticam.

A inteligência humana continua a ser o referencial para o tipo artificial, e o que faz do Homo Sapiens uma espécie singular é o fato de que nossos ancestrais cultivaram cérebros maiores que coligiam mais informações sobre o mundo, raciocinavam a respeito delas de modos mais refinados e recorriam a uma maior variedade de ações para atingir seus objetivos.

Eles se especializaram no nicho cognitivo, também chamado nicho cultural e nicho dos caçadores-coletores.

Isso abrangia um conjunto de novas adaptações, entre elas a habilidade de manipular modelos mentais do mundo e prever o que aconteceria quando se tentassem coisas novas; a habilidade de cooperar com outros, que permitia a equipes realizarem o que seria impossível para um indivíduo sozinho; e a linguagem, que lhes permitia coordenar suas ações e contribuir com suas experiências para o reservatório de habilidades e normas que chamamos de cultura.

Essas disposições permitiram aos primeiros hominídeos derrotar as defesas de uma grande variedade de plantas e animais e colher a recompensa em forma de energia, a qual, armazenada em seus cérebros cada vez maiores, ampliou seus conhecimentos e seu acesso a ainda mais energia.

Uma tribo contemporânea de caçadores-coletores bastante estudada, os hadza, da Tanzânia, que vive no ecossistema onde os primeiros humanos modernos evoluíram e provavelmente preserva boa parte do modo de vida deles, extrai 3 mil calorias diárias por pessoa de mais de 880 espécies.

Os hadza criaram esse cardápio recorrendo a modos engenhosos e exclusivamente humanos de obter alimento — por exemplo, abater animais grandes com flechas envenenadas, remover abelhas da colmeia com fumaça para roubar mel e aumentar o valor nutricional da carne e tubérculos pelo cozimento.

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A energia canalizada pelo conhecimento é o elixir com o qual postergamos a entropia, e avanços na captação de energia são avanços no destino humano.

A invenção da agricultura, por volta de 10 mil anos atrás, multiplicou a disponibilidade de calorias obtidas de plantas cultivadas e animais domésticos, liberou parte da população das tarefas de caçar e coletar e, por fim, deu às pessoas o luxo de escrever, pensar e acumular ideias.

Por volta do ano 500 antes da era comum, na época que o filósofo Karl Jaspers chamou de Era Axial, várias culturas vastamente separadas convergiram de sistemas de rituais e sacrifícios destinados apenas a afastar o azar para sistemas de crenças filosóficas e religiosas que promoviam o altruísmo e prometiam a transcendência espiritual.

O taoísmo e o confucionismo na China, o que hinduísmo, o budismo e o jainismo na Índia, o zoroastrismo na Pérsia, o judaísmo do Segundo Templo na Judeia e a filosofia e o teatro clássicos na Grécia surgiram no espaço de poucos séculos (Confúcio, Buda, Pitágoras, Ésquilo e os últimos profetas hebreus andaram pela Terra na mesma época).

Recentemente, uma equipe interdisciplinar de estudiosos identificou uma causa comum.

Não foi uma aura de espiritualidade que envolveu o planeta, e sim algo mais prosaico: a captação de energia.

A Era Axial foi o período em que avanços na agricultura e na economia proporcionaram um surto de energia: mais de 20 mil calorias diárias por pessoa em alimento, forragem, combustível e matérias-primas.

Esse crescimento explosivo permitiu que civilizações pudessem dar-se ao luxo de ter cidades maiores e uma classe de estudiosos e sacerdotes e reorientar suas prioridades, da sobrevivência no curto prazo para a harmonia no longo prazo.

Como diria Bertold Brecht milênios mais tarde: primeiro a boia, depois a ética.

Quando a Revolução Industrial liberou uma profusão de energia utilizável extraída do carvão, petróleo e água, desencadeou a Grande Saída da pobreza, da doença, da fome, do analfabetismo e da morte prematura, primeiro no Ocidente e, cada vez mais, no resto do mundo.

O próximo salto no bem-estar humano — o fim da extrema pobreza e a disseminação da abundância, com todos os seus benefícios morais — dependerá de avanços tecnológicos que forneçam energia a um custo econômico e ambiental aceitável para o mundo todo.

Entro, evo, info.

Esses conceitos definem a narrativa do progresso humano: a tragédia em que nascemos e nossos meios para conseguir arduamente uma existência melhor.

A primeira noção sábia que esses conceitos oferecem é: pode ser que ninguém tenha culpa por um infortúnio.

Um grande avanço da Revolução Científica — talvez o maior — foi refutar a intuição de que o universo é impregnado de propósito.

Na concepção primitiva, mas onipresente, tudo acontece por uma razão; por isso, quando ocorrem coisas ruins — acidentes, doença, fome, pobreza —, algum agente só pode ter desejado que elas acontecessem.

Se uma pessoa pode ser considerada culpada pelo infortúnio, pode ser punida ou forçada a ressarcir prejuízos.

Quando não é possível atribuir a culpa a nenhum indivíduo, pode-se culpar a minoria étnica ou religiosa mais próxima e linchá-la ou massacrá-la em um pogrom.

Se nenhum mortal puder ser acusado de forma plausível, sempre dá para procurar por bruxas e queimá-las ou afogá-las.

Se isso falhar, invocam-se deuses sádicos, que não podem ser punidos, mas podem ser aplacados com orações e sacrifícios. E há também forças incorpóreas como o carma, o destino, mensagens espirituais, justiça cósmica e outras garantias da instituição de que “tudo o que acontece tem uma razão”.

Galileu, Newton e Laplace substituíram esse drama da moralidade cósmica por um universo mecanicista no qual os eventos são causados por condições do presente, e não por objetivos para o futuro.

Pessoas têm objetivos, claro, mas projetá-los no funcionamento da natureza é uma ilusão.

As coisas podem acontecer sem que ninguém leve em conta seus efeitos sobre a felicidade humana.

Esse vislumbre revelador da Revolução Científica e do Iluminismo foi aprofundado pela descoberta da entropia.

Não só o universo não se importa com os nossos desejos, como também, no curso natural dos acontecimentos, parece frustrá-los, já que existem imensamente mais modos de as coisas darem errado do que de darem certo.

Casas pegam fogo, navios naufragam, batalhas são perdidas por falta de pregos de ferradura.

A noção da indiferença do universo enraizou-se ainda mais quando a evolução foi compreendida.

Predadores, parasitas e patógenos tentam nos devorar constantemente, pragas e organismos decompositores tentam carcomer nossos bens materiais.

Isso pode nos causar grande sofrimento, mas eles não se importam.

A pobreza também dispensa explicações. Em um mundo governado por entropia e evolução, esse é o estado-padrão da humanidade.

Matéria não se arranja espontaneamente para ser abrigo ou roupa, e seres vivos fazem de tudo para não se tornar nossa comida.

Como observou Adam Smith, o que precisa ser explicado é a riqueza.

Contudo, ainda hoje, quando poucos acreditam que acidentes e doenças têm perpetradores, grande parte das discussões sobre pobreza consiste em argumentos sobre quem deve ser culpado por ela.

Nada disso significa que o mundo natural seja isento de malevolência.

Ao contrário, a evolução garante que ela exista em abundância.

A seleção natural consiste na competição entre genes a serem representados na próxima geração, e os organismos que vemos hoje são descendentes daqueles que suplantaram seus rivais em competições por parceiros reprodutivos, alimento e dominância.

Isso não quer dizer que todos os seres sejam sempre rapinantes; a teoria evolucionária moderna explica como genes egoístas podem originar organismos altruístas.

 

No entanto, a generosidade é limitada.

Ao contrário das células de um corpo ou dos indivíduos de um organismo colonial, cada ser humano é geneticamente único; cada indivíduo acumulou e recombinou um conjunto diferente de mutações que surgiram em sua linhagem ao longo de gerações de replicação sujeita à entropia.

A individualidade genética nos dá gostos e necessidades diferentes, além de preparar o terreno para disputas.

Famílias, casais, amigos, aliados e sociedades fervilham com conflitos parciais de interesse, que se manifestam em tensão, discussões e, às vezes, violência.

Outra implicação da lei da entropia é que um sistema complexo como um organismo pode ser facilmente incapacitado, pois seu funcionamento depende de que inúmeras condições improváveis sejam satisfeitas ao mesmo tempo.

Uma pedrada na cabeça, mãos em volta da garganta, uma flecha bem localizada, e a competição é neutralizada.

Ainda mais tentador para um organismo usuário de linguagem: uma ameaça de violência pode servir para coagir um rival, abrindo a porta para a opressão e a exploração.

A evolução nos deixou outro fardo: nossas faculdades cognitivas, emocionais e morais são adaptadas à sobrevivência e à reprodução do indivíduo em um ambiente arcaico, e não à prosperidade universal em um ambiente moderno.

 

Para avaliar esse fardo, não precisamos acreditar que somos homens das cavernas extemporâneos; basta saber que a evolução, com seu limite de velocidade medido em gerações, não foi capaz de adaptar nosso cérebro à tecnologia e às instituições modernas.

Os humanos atuais dependem de faculdades cognitivas que funcionavam bem em sociedades tradicionais, mas que agora percebemos estar infestadas de falhas.

Por natureza, as pessoas não nascem sabendo ler e calcular; quantificam o mundo com base em “um, dois, muitos” e estimativas aproximadas.

Imaginam que as coisas físicas possuem essências ocultas que obedecem a leis de relações mágicas ou voduístas, e não a leis da física ou biologia: objetos podem exercer influência através do tempo e do espaço sobre coisas que se assemelham a eles ou que estiveram em contato com eles no passado (lembre-se das crenças dos ingleses em tempos pré-Revolução Científica).

Pensam que palavras e pensamentos sob a forma de orações e maldições podem interferir no mundo físico.

Subestimam a prevalência da coincidência.

Generalizam com base em amostras insignificantes, isto é, na sua experiência pessoal, e raciocinam com base em estereótipos, projetando as características típicas de um grupo sobre qualquer indivíduo pertencente a ele.

Inferem causas com base em correlações.

Raciocinam de maneira holística, em preto e branco, e física, tratando redes abstratas como matéria concreta.

Não são cientistas intuitivos, mas são advogados e políticos intuitivos, pois coligem evidências que confirmam suas convicções e descartam evidências que as contradizem.

Superestimam seu próprio conhecimento, sua idoneidade, competência e sorte.

O senso moral humano também pode atuar em detrimento do nosso bem-estar.

As pessoas demonizam quem discorda delas, atribuindo diferenças de opinião a estupidez e desonestidade.

Para cada infortúnio, procuram um bode expiatório. Veem a moralidade como uma fonte de justificativas para condenar rivais e mobilizar indignação contra eles.

A justificativa para condenação pode ser o fato de o réu ter prejudicado alguém, mas também o fato de ter desobedecido aos costumes, questionado a autoridade, solapado a solidariedade tribal ou participado de práticas sexuais ou alimentícias impuras.

As pessoas veem a violência como moral, não imoral: em todo o mundo e ao longo de toda a história, mais pessoas foram assassinadas para aplicar justiça do que para satisfazer à cobiça.

Mas, não somos de todo ruins.

 

A cognição humana vem com duas características que lhe dão os meios para transcender suas limitações.

A primeira é a abstração.

As pessoas podem, por associação, usar seu conceito de um objeto em dado lugar para conceituar uma entidade em uma circunstância —por exemplo, quando aplicamos o padrão de O cavalo foi do lago ao topo da montanha a O menino foi da euforia à tristeza.

Podem usar por associação o conceito de um agente exercendo força física para conceituar outros tipos de causalidade —por exemplo, quando estendemos a imagem em Ela forçou sua passagem na multidão para Ela forçou sua irmã a ir junto ou Ela se forçou a sorrir.

Essas fórmulas dão às pessoas um meio de pensar sobre uma variável com um valor e sobre uma causa e seu efeito — exatamente o mecanismo conceitual de que precisamos para estruturar teorias e leis.

Podemos fazer isso não apenas com os elementos do pensamento, mas também com associações mais complexas, permitindo pensar com base em metáforas e analogias: o calor é um fluido, uma mensagem é um recipiente, uma sociedade é uma família, obrigações são laços.

A segunda escada da cognição é o seu poder combinatório, recursivo.

A mente pode contemplar uma variedade explosiva de ideias reunindo conceitos básicos —coisa, lugar, caminho, ator, causa, objetivo —para formar proposições. E pode contemplar não só proposições, mas também proposições sobre proposições, e proposições sobre as proposições sobre as proposições.

Corpos contêm humores; a doença é um desequilíbrio nos humores que o corpo contém; não acredito mais na teoria de que a doença é um desequilíbrio nos humores que o corpo contém.

Graças à linguagem, ideias não são apenas abstraídas e combinadas na cabeça de um único pensador, mas também podem ser compartilhadas em uma comunidade de pensadores.

Thomas Jefferson explicou o poder da linguagem com a ajuda de uma analogia: “Aquele que recebe uma ideia de mim recebe a instrução para si sem diminuir a minha, assim como aquele que acende sua vela na minha recebe a luz sem me deixar na escuridão”.

A potência da linguagem como um aplicativo de compartilhamento original foi multiplicada pela invenção da escrita (e novamente, em épocas posteriores, pela prensa tipográfica, pela disseminação da alfabetização e pela mídia eletrônica).

As redes de pensadores que se comunicam expandiram-se com o tempo, conforme as populações cresceram, misturaram-se e se concentraram em cidades. E a disponibilidade de energia além do mínimo necessário à sobrevivência deu a mais pessoas o luxo de pensar e conversar.

>> Leia a entrevista de Steven Pinker sobre o livro à Universidade de Harvard

Quando comunidades grandes e conectadas ganham forma, podem conceber modos de organizar seus assuntos que favoreçam o benefício mútuo de seus membros.

Embora todos queiram estar certos, assim que as pessoas começam a expor suas ideias incompatíveis torna-se claro que não é possível todos estarem certos a respeito de tudo.

Além disso, o desejo de estar certo colide com um segundo, o de conhecer a verdade, que é supremo na mente de quem observa uma discussão sem interesse pessoal na vitória de nenhum dos lados.

Assim, comunidades podem elaborar regras que permitam o surgimento de crenças verdadeiras a partir das turbulências da discussão, por exemplo: você tem de expor razões para suas crenças, tem permissão para apontar falhas nas crenças dos outros, mas não pode calar à força as pessoas que discordam de você.

Adicione a regra de que deve ser permitido que o mundo lhe mostre se as suas crenças são verdadeiras ou falsas, e podemos chamar essas regras de ciência.

Com as regras certas, uma comunidade de pensadores não totalmente racionais pode cultivar pensamentos racionais.

A sabedoria da multidão também pode elevar nossos sentimentos morais.

Quando um círculo de pessoas suficientemente grande delibera sobre o melhor modo de tratar umas às outras, a conversa tende a seguir certas direções.

Se a minha proposta inicial for “Eu posso roubar, espancar e matar você e a sua família, mas você não pode roubar, espancar, escravizar ou matar a mim ou à minha família”, não há como eu esperar que você concorde com o trato, nem que terceiros o ratifiquem, pois não há como justificar tais privilégios só porque eu sou eu e você não é.

Provavelmente, também não concordaremos com o trato “Posso roubar, espancar, escravizar e matar você e sua família, e você pode roubar, espancar, escravizar e matar a mim e à minha família”, apesar da simetria, pois as vantagens que cada um de nós poderia obter prejudicando o outro são em muito superadas pelas desvantagens que sofreríamos por ser prejudicados (mais uma implicação da lei da entropia: prejudicar é mais fácil e pode ter efeitos maiores que beneficiar).

Seria mais sábio implementarmos um contrato social que nos deixasse em um jogo de soma positiva: nenhum dos dois pode prejudicar o outro, e somos ambos incentivados a promover a ajuda mútua.

Assim, apesar de todas as deficiências na natureza humana, ela contém as sementes de seu próprio aperfeiçoamento, contanto que proponha normas e instituições que canalizem interesses particulares para benefícios universais.

Entre essas normas estão a liberdade de expressão, a não violência, a cooperação, o cosmopolitismo, os direitos humanos e o reconhecimento da falibilidade humana; entre as instituições estão a ciência, a educação, os meios de comunicação, o governo democrático, as organizações internacionais e os mercados.

Não por coincidência, esses foram os principais frutos do Iluminismo.

Assista à palestra de Steven Pinker sobre o livro no Oslo Freedom Forum (legendas em inglês)

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Steven Pinker

Steven Pinker

Psicólogo e Linguista

Psicólogo especialista na relação entre mente e linguagem, autor de O novo Iluminismo.
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