Postado em out. de 2022
Sociedade | Futuro e Tendências Globais
Padrões de inovação
Durante sua conferência, o historiador Steven Johnson analisou e desvelou padrões presentes desde nossas primeiras inovações.
Durante sua palestra no Fronteiras do Pensamento, o historiador com paixão pelo tema inovação, Steven Johnson, analisou e desvelou padrões presentes desde nossas primeiras inovações. Esses padrões fazem parte de um processo evolutivo de grandes ideias inovadoras. Quanto aos inventores/ inovadores, seu conselho é que cultivem sua tenacidade e força de vontade para manter as ideias vivas por mais tempo. Se você tem uma ideia que sente que é boa, aqui vão alguns pontos para se atentar:
Palpites lentos (Slow hunch) – mantenha-os vivos! Um palpite lento não é um daqueles insights ‘aha’ quando tudo fica claro. Em vez disso, é mais uma impressão vaga de que há algo interessante acontecendo e uma intuição de que poderia haver algo importante à espreita não muito longe. Steven Johnson explica isso das seguintes maneiras: “Se você olhar para o registro histórico, acontece que muitas ideias importantes têm períodos de incubação muito longos. Eu chamo isso de ‘palpite lento’ … Muitas ótimas ideias permanecem às vezes por décadas no fundo da mente das pessoas.” “A mudança pode ser rápida. As ideias mais importantes que desencadeiam a mudança são muitas vezes muito lentas em seu desenvolvimento – o que eu chamo de palpite lento … Se você olhar para todos os tipos de inovações ao longo da história, o momento do a-ha quase nunca realmente existe. É quase sempre esse longo processo em que alguém tem um fragmento de uma ideia e ela fica na cabeça por um ano, ou dois anos, ou dez anos antes de se transformar em algo realmente útil.” “Estou realmente interessado em inovação e tecnologia e, ao mesmo tempo, passei grande parte da minha carreira recente falando sobre coisas como o palpite lento –
ideias que precisam de tempo para se desenvolver e incubar (às vezes por uma década). Em certo sentido, essas duas coisas parecem estar em conflito uma com a
outra porque você tem esse ritmo de mudança que está acelerando … mas você também inevitavelmente precisa desse desenvolvimento mais longo para ter ideias verdadeiramente importantes …O segredo dos palpites lentos é mantê-los vivos.”
Redes Líquidas – Importância da colaboração e diversidade para iluminar pontos cegos.
Aceitar e entender que temos pontos cegos é importante. Quando estudamos. Quando estudamos aqueles que chegaram quase lá, observamos que algum ponto cego impediu o
sucesso. Para lidar com esses pontos cegos e aprender com os erros – tanto os próprios como os de outros – é importante ter mais gente a explorar suas ideias, extrapolar, sonhar, brincar com elas.
Espaços de inovação - De onde vêm as boas ideias de inovação? A resposta curta; cafés. No século XVII deixamos de nos embebedar com cerveja e vinho (água fazia mal à saúde naqueles tempos) e nos sentir ligeiramente bêbados e letárgicos o dia todo e passamos a frequentar os cafés, onde a bebida era café ou chá, dois potentes estimulantes. Nesse ambiente de pessoas despertas, as conversas geraram muitas das grandes ideias que tiveram impacto em nossa história. Resposta mais longa, continue a leitura. Primeiro, de onde as boas ideias não vêm. Boas ideias não vêm – em sua maioria – da cabeça de alguém. Em vez disso, elas vêm de fora – especificamente da interação social. Um estudo realizado nos principais laboratórios de pesquisa descobriu que os cientistas raramente, se é que alguma vez, tiveram um flash de inspiração ou momento eureka sozinhos no laboratório. Em vez disso, as ideias acontecem em conversas com colegas. Então,
quer uma ótima ideia? Então vá a uma cafeteria e converse com alguém. Nem tampouco podemos dizer que boas ideias vêm de pensamentos ou visões. Em vez disso, elas vêm de coisas. Toda grande ideia é uma combinação ou mutação de uma ideia que já ganhou vida. Ideias trazidas à vida em produtos que já estão por aí são os blocos de construção da inovação – não pensamentos. Finalmente, boas ideias não vêm de olhar para frente ou para trás, mas vêm de olhar para a esquerda e para a direita, para o que está ao nosso lado. Johnson baseia-se no conceito de Stuart Kauffman do “possível adjacente”.
Possível adjacente - Para reafirmar que as grandes inovações de amanhã são construídas a partir das coisas de hoje – especificamente a partir das coisas ao nosso redor que podem ser combinadas em algo novo. Ou seja, é o conjunto de movimentos que você pode fazer em um dado momento. Há limites para esses movimentos. O que podemos
fazer é buscar ampliar o possível adjacente. “A verdade estranha e bonita sobre o possível adjacente é que seus limites crescem à medida que você os explora. Cada nova
combinação abre a possibilidade de outras novas combinações”, nos alerta Steven Johnson.
Serendipidade (palavra que se refere às descobertas feitas, aparentemente, por acaso) - Deixe-se surpreender em conversas, traga a ludicidade para explorar possibilidades, perca-se…Em sua palestra, Steven contou como um pato mecânico do séc XVII cuja única função era entreter as pessoas ao comer e depois expelir sua ração inspirou outro inventor a criar o tear mecânico que pudesse urdir padrões têxteis, e embora sem sucesso, foi depois evoluída por um inglês que usou cartões perfurados para criar
um tear que reproduzia padrões complexos a partir desses cartões…esses mesmos cartões depois foram incorporados à programação em computadores. Ou seja, do pato que come e defeca para o computador…. Exaptation – encontrar novos usos para coisas que já existem Além do exemplo dos cartões perfurados que foram usados em teares e computadores, Steven trouxe outro exemplo interessantíssimo em que o joystick é usado por cirurgiões para guiar cirurgias robotizadas, se valendo de anos de treino de cirurgiões que jogaram videogames em sua infância/ adolescência.
Conectores/ apoiadores - As boas ideias também precisam de apoiadores. Aqueles que acreditam e percebem o valor da ideia e de alguma forma criam condições para que a ideia se realize. É preciso uma rede de pessoas que possam persuadir sobre a importância de uma nova ideia. Em um exemplo notável, o autor contou que não bastou Pasteur
inventar o processo de pasteurização. A ideia de pasteurizar o leite e assim reduzir os casos de mortalidade infantil por intoxicação com leite estragado precisou de diversos agentes defendendo a ideia tanto para o setor público quanto para a população.
Sete Perguntas para Encontrar Boas Ideias
Com base em uma revisão de boas ideias trazidas à vida como inovações, Johnson sugere que há sete lugares específicos para procurar onde você encontrará as sementes de uma ótima ideia. É importante ressaltar que eles não serão encontrados onde você está agora. Mudar seu ambiente e se expor a novas ideias é fundamental. Mas um em um novo espaço, os “lugares” de onde suas boas ideias virão são sete princípios que podem ser formulados como sete perguntas para se fazer – e aos seus colegas.
1. Que novas possibilidades existem hoje, que não existiam há um ano? (Princípio de possibilidades adjacentes).
2. Que palpites você tem tido há algum tempo sobre o que fazer? (Princípio de palpites lentos – quanto mais os outros os compartilharem ou construírem sobre eles, melhores eles podem ser).
3. O que os olhos frescos acham que devemos fazer? (Princípio das redes líquidas).
4. O que funcionou que nos surpreendeu? (Princípio da serendipidade – construa sobre o que surpreende, acontecimentos de acaso).
5. Qual é o maior aprendizado do nosso maior erro? (Princípio de erro).
6. Para que outro propósito nosso produto ou serviço pode ser usado? (Princípio de exaptation – a pena de pássaro evoluiu para o calor, e então através da ‘exaptation’
eles se tornaram asas).
7. Em que grande sucesso podemos construir? (Princípio da plataforma).
Para nós, como indivíduos, Johnson resume suas ideias sobre como podemos aumentar as chances de participar da evolução de boas ideias de inovação:
“Os padrões são simples, mas seguidos juntos, eles fazem um todo que é mais sábio do que a soma de suas partes. Dê um passeio; cultive palpites; escreva tudo, mas do que a soma de suas partes. Dê um passeio; cultive palpites; escreva tudo, mas mantenha suas pastas bagunçadas; abrace a serendipidade; cometa erros generativos; assuma vários passatempos; frequente cafés e outras redes líquidas; siga os l inks; deixe os outros desenvolverem suas ideias; empreste, recicle, reinvente.”
Este artigo foi publicado e escrito por Claudia Miranda Gonçalves para o Blog Lentes de Decisão do Estadão, cuja reprodução foi autorizada para este espaço.