Postado em jun. de 2023
Mulheres Inspiradoras | Ativismo e Causas Humanitárias
Nadia Murad relata sua luta contra violência sexual como arma de guerra
Mediada pela jornalista Patrícia Campos Mello, com vasta experiência como correspondente na Folha de S.Paulo, a conferência emocionou a plateia
A vencedora do prêmio Nobel da Paz, em 2018, Nadia Murad, trouxe para a temporada 2023 do Fronteiras do Pensamento, além da sua história, um pedido, quase uma provocação: “Ajude a criar um mundo onde o medo é causado pelo progresso e não pela violência”.
Essa ativista iraquiana que passou três meses sequestrada sobe o jugo do Estado Islâmico (Isla) afirma que, para ela, a história não acabou. “Cada minuto é como uma vida inteira no cativeiro”, relata em conferência no último dia 19 em São Paulo. Mesmo com a derrota da organização terrorista, restam mais de duas mil mulheres e crianças da sua etnia desaparecidas.
Nadia Murad é uma Iazidi, povo que ocupa territórios ao norte do Iraque e pratica uma religião sincrética, com elementos do cristianismo e do islamismo e conexão com o zoroastrismo. Essa crença despertou a ira dos radicais do EI.
Em 2014, o Estado Islâmico invadiu a região de Sinjar, perto da fronteira iraquiana com a Síria. Os habitantes do vilarejo onde Nadia vivia foram dizimados, pois se recusaram à conversão ao islamismo.
Os homens foram mortos e os meninos enviados a campos de treinamento do EI. Os extremistas mataram todas as mulheres acima de 45 anos. As jovens sobreviventes terminaram, como Nadia, submetidas ao tráfico humano.
Apenas dois homens foram condenados por essas barbaridades. “A violência sexual é arma de guerra”, afirma a ativista.
Nadia também se mostra preocupada com o tratamento dado aos sobreviventes. “Vivi em um campo com mais de 12 mil pessoas. As pessoas sabiam que eu tinha sofrido abuso sexual. Todos me olhavam de forma diferente”, conta.
Para combater esse tipo de abordagem, Nadia criou o Código Murad, um guia de procedimentos que instrui jornalistas, voluntários e pessoas ligadas ao atendimento a refugiados, como lidar com essa situação tão delicada que é a experiência que ela viveu. “Luto para que eu seja a última”, afirma.
Além do código, a Nadia’s Initiative – organização liderada por ela – coordena mais de 100 projetos em benefício do seu povo e de outras comunidades, vítimas da mesma violência. Nadia esteve recentemente na Ucrânia onde, mais uma vez, os abusos sexuais se repetiram contra mais de sete mil mulheres e crianças.
Emocionada, a ativista dedica sua luta à memória da mãe, assassinada pelos terroristas porque tinha passado da idade para servir como escrava sexual. “Ela me ensinou que todos tem um lado bom. Luto por tudo o que ela me ensinou”.
Nadia Murad
Ativista iraquiana