O despertar de tudo questiona apagão histórico

Perdemos a maior parte dos 200 mil anos de história do homem nesse planeta. O desconhecimento dos detalhes da trajetória da espécie, desde o seu surgimento, é normalmente atribuído ao fato que nos organizávamos em pequenos grupos, coletores e caçadores, cuja presença não era capaz de deixar vestígios.

No best seller O despertar de tudo, David Wengrow e David Graeber questionam esse caráter passivo dos primeiros humanos. A obra põe em xeque tudo o que existe sobre as origens da propriedade, das cidades, da democracia, da escravidão e da própria sociedade moderna.

Wengrow e Graeber não estão interessados em saber se o caminho percorrido até aqui caracteriza o homem como “bom” ou “mal”. Segundo eles, “jamais passaria pela cabeça de alguém discutir se um peixe ou uma árvore são bons ou maus, porque “bom” e “mau” são conceitos humanos que criamos para nos comparar uns aos outros. Por isso, discutir se os seres humanos são bons ou maus em sua essência faz tanto sentido quanto discutir se os seres humanos são naturalmente gordos ou magros.”

O despertar de tudo se debruça em questões profundas como as causas que nos levam a fazer as grandes escolhas capazes de mudar o destino da humanidade. O livro defende a tese que “A hierarquia e a dominação — e a atuação descarada em nome dos próprios interesses — sempre foram a base da sociedade humana. É que simplesmente aprendemos, em termos coletivos, que mais vale dar prioridade aos nossos interesses de longo prazo do que aos nossos instintos de curto prazo — ou melhor, mais vale criar leis que nos obriguem a limitar a ação de acordo com nossos piores impulsos a áreas socialmente úteis, como a economia, e refreá-los em outras partes”.

A obra revolucionária mescla o melhor da Arqueologia e Antropologia com uma narrativa irônica e bem-humorada. Em tempos de ameaças climáticas, compreender a história do homem é também uma forma de localizar atalhos nas lições do tempo. David Wendrow estará no Brasil em outubro na temporada 2023 do Fronteiras do Pensamento.